segunda-feira, 27 de abril de 2009

O PÃO E O LEITINHO

Aquele não era um dia normal - dava pra sentir que seria diferente - e ao completar os meus 15 anos, em 1950, tive logo uma surpresa: no dia seguinte ao aniversário, meu pai chegou mais cedo do trabalho e ordenou que eu fosse me arrumar e tomar um banho:


– Anda logo moleque, se apresse! Hoje é o dia de você virar homem.

Para ser sincero eu não entendi muito bem aquela colocação, mas fiz como o ordenado: tomei um banho, vesti a roupa da missa e passei um pouco da loção de barbear do meu velho.

– Estou pronto, pai!

– Nem precisava se aprumar tanto, pra onde você vai nem carece disso.


Sabe aquela sensação de interrogação constante, como se você estivesse prestes a ser levado a um abatedouro? Pois é, era essa a minha sensação.


Meu pai me levou até um lugar onde eu nunca havia estado, mas imaginava nos meus sonhos adolescentes de hormônios borbulhantes. Ah! O bordel... Para ser honesto, eu sonhava com qualquer mulher nua – estivesse eu dormindo ou não – nem precisava ser uma mulher de bordel. Acho que nessa idade é só no que se pensa e, claro, na Aninha. Aninha, Aninha... Que belezura de mulher! Era a filha do “Seu” Manoel da padaria. Formosa, linda, boca, seios, traseiro... Ora essa, no que mais pensa um moleque da minha idade?


– É aqui, filho. Vou mostrar um lugar especial que você jamais vai esquecer – disse o meu velho todo satisfeito, mas aquele “jamais vai esquecer” ecoou um pouco trágico pra mim.

– Ta bom, pai. Que lugar é esse? – disse eu tentando fingir inocência.

– Filho, isso aqui é um bordel! Um lugar onde os homens vem gastar parte de seus salários para satisfazer certos devaneios que nossas sagradas esposas não devem fazer.

– E que devaneios seriam esses meu pai? – interroguei um tanto curioso.

– Bem... sabe... coisas... Um dia você entenderá! – respondeu o velho se esquivando de mais perguntas.


Entramos num salão cheio de luzes vermelhas, com mesas espalhadas, mulheres sentadas nos colos dos homens e um denso cheiro de cigarro com perfume barato; eu pude ver uma senhora que se aproximava de mim e do meu pai. Era já uma velha com roupas um tanto indecentes para a sua idade e a cara toda pintada. Parecia-me mais uma árvore de natal, dessas bem xexelentas.


– Boa noite Sr. Pedro! Então este é rapazola que veio perder o cabaço?

– É o meu filho, Madame Elvira. Seu nome é Ricardo. Já é um varão e completou 15 anos ontem mesmo.

– Posso notar que tem boa estrutura. Será que se tornará um amante tão hábil quanto o pai? – comentou a madame árvore de natal enquanto piscava para o meu velho.


Notei que com um aceno de mão daquela “senhora”, algumas moças vieram em nossa direção. Eram cinco no total. Perfilaram-se uma ao lado da outra como numa vitrine viva esperando que alguém as escolhesse.


– Essas são as melhores professoras da casa. Escolha uma! – gritou a velha.


Olhei aquelas moças, e mesmo que não fossem bonitas a minha condição de puberdade quase me obrigava a ter uma ereção. Mas também não era tudo isso...


– Escolha à vontade, filho. Pode deixar que eu pago! – e meu pai bateu a mão no peito orgulhoso do que acabara de falar.

– Pai, você vai pagar por isso? Merecia eu receber por perder meu cabaço com essas mulheres. – falei bem baixinho ao lado dele.

– Deixa de ser mal agradecido, seu moleque. Escolha logo uma! – bradou ele ao meu ouvido.


Olhei todas com muita atenção e julgo necessário relatar aqui algumas impressões que eu tive. Como eu disse, eram cinco moças: a primeira era uma mulher imensa, parecia um cantora alemã de ópera daquelas que carregam na cabeça um chapéu com dois chifres a interpretar as Valkírias. Era meio sebosa, tinha bigode e muitos pêlos debaixo do braço; acredito que fosse possível até fazer uma trança, não com os pêlos da axila, mas com o bigode dela. A segunda era uma mulata com corpo escultural e carnes duras. Dei uma risadinha marota e infelizmente ela correspondeu com um sorriso imenso. Meu Deus! O que era aquilo, onde estavam os seus dentes? Viam-se apenas as gengivas e alguns caquinhos lhe sobravam na boca. Foi a visão do inferno! A terceira eu fiquei sabendo depois que era uma mulher; era uma criatura estranha que eu não sabia se estava de frente ou de lado: era uma tábua! As outras duas nem merecem descrição, eram piores que isso.


Enquanto o meu corpo vivenciava aquela apresentação bizarra, os meus pensamentos corriam longe até os cachinhos dourados de Aninha. Ah, Aninha! Já disse que ela era filha do “Seu” Manoel? Era com aquela mulher que eu queria me tornar homem, ela era perfeita em todos os sentidos (pelo menos para um garoto de 15 anos). Eu não entendia direito, mas sempre que eu buscava o pão ela fazia questão de me atender. Eu pedia seis pãezinhos e ela carregava o pacote com outros seis, mas ficava pelo preço de meia dúzia. Aquilo sempre me intrigou até o dia em que eu notei que meu pai demorava um bocado de tempo para comprar cigarros na tabacaria que ficava ao lado da padaria. Em certa ocasião eu decidi segui-lo, e para a minha surpresa eu o vi tendo intimidades a mais com a Aninha no depósito de lenhas da padaria. Aquela foi a primeira vez que vi as coxas de uma mulher, mas confesso que vi muito mais que isso. “Então é assim que se faz?”, pensava eu enquanto assistia animado aquela cena.


Muitos pãezinhos mais tarde, e tendo eu me desenvolvido, qual não foi a minha felicidade ao escutar um certo comentário de Aninha numa das vezes em que eu ganhei aquela meia-dúzia a mais de pães:


– Bem se vê que já é um rapagão, Ricardo. Você está a se tornar tão viril quanto o seu pai, mas com uma vantagem: é bem mais jovem e pode aprender uns truques novos. – disse aquilo enquanto me lançava uma piscadela.


Nem preciso dizer que as minhas pernas tremeram e o volume nas calças foi imediato. Fui o percurso da padaria até a minha casa cutucando o saco quente do pão e com um risinho idiota estampado no rosto. Eu me imaginei comendo a Aninha de todas as maneiras e nem poderia ser diferente porque com 15 anos é só nisso que se pensa.


Com a minha mente vagando por aí eu esqueci que estava no bordel escolhendo a puta que tiraria o meu cabaço e num ímpeto inocente eu falei:


– Eu escolho a Aninha...

– Que Aninha? Tá louco, moleque?! – e meu pai deu um tapão na minha cabeça porque ele entendeu o que eu disse, pra logo em seguida completar: – A Aninha não é mulher pro seu bico, escolha logo uma das putas!


Aquilo ferveu o meu sangue. Eu sabia que só ele comia a Aninha... Por enquanto. Apontei para a mulata que era a menos estragada das cinco e a madame sei lá o quê nos indicou um quarto no segundo piso. Subimos, e logo a mulher foi falando num português mais medonho que o seu sorriso:


– Ocê é novo, intão vô logo anvinsando: eu num bejo na boca e não dô o cu.

– Tudo bem. – disse eu aliviado por não ter que beijar aquela boca.


A mulata me jogou na cama e me despiu com uma velocidade incrível e apesar do rosto dela ser judiado, o corpo daquela mulher era de outro mundo de tão perfeito. Mais uma vez, com os meus 15 anos, eu não pude evitar uma ereção. A mulher meteu a mão no “vocês sabem o quê” e começou a massageá-lo num maravilhoso vai e vem. Eu não fazia idéia de que sem usar a minha mão aquilo seria tão prazeroso. Em seguida ela caiu de boca e eu fiquei assustado, pois não sabia que se colocava a boca nele. E se ela me machucasse? Notando a minha preocupação, a mulata me acalmou:


– Fica sunssegado, minino. Ocê vai vê como isso é bão.


Eu tratei de olhar em direção ao teto para me distrair e comecei a reparar nas manchas de umidade no canto do quarto. De repente eu senti uma coisa incrível:


– Ahhhhhhhhhh! – eu gritei.

– Eu disse que é bão. – retrucou a mulher.


Eu nunca havia sentido nada assim, era bom demais aquele negócio que ela fazia com a boca. Eu só não sabia dizer se era bom por ser bom, ou se era bom porque ela era banguela. Mas o que importa? Então começou a brincadeira, ela me ensinou o “papai e mamãe”, o “de ladinho”, o “de quatro”, mas deixou o preferido dela para o final: “ir por cima”. Disse ela que seria como brincar de cowboy, e como eu sempre gostei de cowboys... Ela subiu e começou a fazer uns movimentos muito bons e perguntou:


– Ocê tá gostando?

– Sim, eu estou. – respondi, mas ao mesmo tempo eu pensava em perguntar se ela se importaria em colocar uma fronha na cabeça porque a visão era péssima! Contudo, eu achei melhor ficar quieto.

De repente a mulher começou a pular de um lado ao outro gritando todo tipo de palavrões que eu conhecia e mais uma porção que eu nunca havia escutado. A puta parecia possuída pelo capeta e nesse instante eu fechei os olhos com força e repetia constantemente: “É a Aninha, é a Aninha, é a Aninha...”; como eu queria que fosse verdade. Eu abri os olhos e vi aquela mulher completamente louca pulando em cima de mim, gemendo, grunhindo e berrando:


– Eu quero leitinho! Dá leitinho pra eu, minino!


Que merda é essa de leitinho?! Eu nem sabia o que era aquilo até que eu gritei e tive um orgasmo. Ah!... Esse é o leitinho. Agora eu entendia.


Saímos do quarto e meu pai estava esperando no salão térreo. Fomos embora para casa: eu acabado e ele muito satisfeito do filho ter “virado homem”. O que ele nem desconfiava é que algum tempo depois quem me pedia “leitinho” era a Aninha do “Seu” Manoel: mais meia-dúzia de pães na mesa. Mudando do assunto dos pães e continuando no leite, eu achava engraçado o fato do leiteiro deixar três e não apenas uma garrafa de leite na porta de casa todas as manhãs. Com mais dois filhos além de mim, mamãe sabia que não poderia faltar comida; ela então recebia o leiteiro sempre que o meu pai escapava até a tabacaria, mas isso é uma outra história. Pelo menos nunca passamos fome.

3 comentários:

Carlitos disse...

Que atire a primeira pedra o homem que não teve uma "Aninha" na adolescência.

Michelle disse...

Não sei ao certo como cheguei ao seu blog, mas confesso que ri demais com a história! KKKKKKKK

Everton disse...

Muito boa a história, tenho 16 anos e me identifiquei com a história.